um banho quente de tesão e ação de pensamentos absurdos

domingo, dezembro 07, 2008

ANTI RETRATO

penso em você
pura devassidão
me olho
me calo
reprimo
me enquadro
não adianta
ESCORRO

sábado, novembro 29, 2008

DIFÍCIL ATERRIZAGEM

Esperava que me procurasse
Do mundo o que sobra
É um silêncio branco e opaco
Daquilo que deveríamos gritar
Mas que não sussurramos
Para ninguém
A dor nunca irá sair da carne
Mas às vezes é bom ser amaciado

Odeio essa solidão gelada
Porque ela não apaga minhas brasas
Os corpos precisam ser socializados
Os sentimenos também
Mas ninguêm está interessado nisso ao que parece

Agora sem asas
Me aprumo para aterrizar
Em qualquer um desses tédios
Dispostos no chão das cidades
A espera de um amor quente e seguro

quinta-feira, novembro 20, 2008

SOBRE O FAZER ANOS

SOBRE O FAZER ANOS: RESPOSTA A MEU PAI
Nesta hora as coisas ficam elevadas de si
O mundo entra numa suspensão absurda
Não que dantes tivera algum sentido
Mas que, agora, mostra-se deveras irregular.

Não se tem muito em comemorar nesses dias próximos
Estar vivo é um estado de ficar só
Enlouqueço nessa época
Grito por colo
Mas o caos não propaga o som.

Os anos passam
Mortos são lembrados
Alguns vivos esquecidos
Quem são aqueles que importam?

Há um mundo na minha frente
E meu único desejo permanece sendo
Um abraço quente e aconchegante.







DE IVOR BARRETTI, O PAI PARA THAÍS, A FILHA:

Mais alguns dias e você completará anos.
Poderá recitar:
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma.
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
- Serei velho quando o for! Sentença potente, rija, altaneira. Serei velho quando o for! Quando me permitir ser velho! Quando eu me deixar envelhecer! Antes não!
Antes não.
Antes de ser velho (e ainda não o sou totalmente) fui menino, travesso, alegre, inconseqüente, em busca de mim mesmo.
Hoje envelheço!
Todavia sorrio contente, calmo, manso.
Você ainda não envelhece.
É preciso muitos anos para o envelhecer!
Você desabrocha, flor linda e sensual.
E os anos te acrescentarão gostosura.
Somente.
Sê feliz.
Amo você.

segunda-feira, novembro 10, 2008

DOS ARMAMENTOS


Por enquanto
Me mantenho arisca
Lisa e escapável
Presa em espaço decantado
Avessa às forças de qualquer aliança
Mesmo negada
Não me abalo
Encho os bolsos com pedras limpas
Espero o foco para um
Ataque futuro e certeiro

domingo, novembro 02, 2008

aos amigos novos e aos de sempre

Porque hoje foi assim
Ao ver-me desenhada na tela
Senti uma puta saudade do que eu era
De quem eu tinha perto
De como nós viviamos e como
Resolviamos as coisas
Tinha mais poesia do que poeta.
Não quero terminar nostálgica
Mas em noites como esta
Faz falta conviver com aqueles a quem se ama
De amigos a romances
Estávamos juntos porque gostavamos uns dos outros
Não tinha contrato nem permissão
Não era um negócio de dividir contas para viver mais barato
Nessa época estávamos juntos porque nos amávamos
E me impressiona que as pessoas possam
Viver sem nunca ter sabido disso
Sofro aqui nesse convívio contratualista
Que não envlove desejos de estar junto
Tudo não passa de quem irá pagar a luz no mês que vem
Tenho saudades dos amigos
Porque se com eles tudo fica fácil
Longe deles uma gripe pode ser mortal.

domingo, outubro 26, 2008

domingo cheiro de pedra quente




Amarro minha fita, agora sim estou pronta, armada para o desenrolo. Sento-me à escrivaninha e digo: só saio quando tudo estiver pronto. Mas de fato se fosse assim, apodreceria por aquele quarto com chãos de tacos soltos. Faz calor de forma intensa. Entre um texto e outro penso no bar, na cerveja, penso na Luana e na Iara depois de um almoço com corações de galinha. Alguns de quem gosto muito estarão fora por esses dias. Vai ser bom dedicar-me um pouco mais a mim. Mas, se não fosse o calor, seria mais fácil. A casa está sozinha... agradavelmente sozinha e em silêncio. Brindo na minha cabeça pelas parcas coisas que possuo, por aquelas que abandonei; brindo à minha corajosa vida covarde. De qualquer jeito ao anoitecer darei um pulo no bar dos argentinos, soube que teve batida policial ontem por lá, o clima vai estar tenso, quero saber dos acontecidos. Ouvir relatos e desaforos.
O melhor jeito de se conhecer o mundo é pelo cheiro, porque não dá para escolher o que cheiramos, o cheiro é nômade e invade nosso paladar sem nossa mediação: ou cheiramos tudo do nosso lado ou morremos por falta de ar. Mas agora faz calor e não há vento nas ruas. E por isso é preciso estar lá no meio das coisas para sabê-las ver.

ao pequeno samurai




ontem senti falta do meu

pequeno samurai

as pessoas não vivem dentro

das fotografias

não riem e não dão socos no ar

mas nos ensinam a enfrentar os dias

e enrigecer os músculos

antes do tombo

terça-feira, outubro 07, 2008

fagocitose


Os dias deste lado da ilha
Tem cutra duração.
As noites crescem longas
Insolúveis
Onde me aprisiono
Numa cerca rodeada de abelhas
Bem no meio do enxame.
Esgarço o lombo
Exponho-o para ferruadas.
Nesse mundo das obrigações
Martelo dígitos e registro pontos.
Visto-me para dinamitar comandas
Abandonar consumos e excluir cervejas.
Quem dera pudesse habitar um sonho
Ser percebida e quista como flor em pétalas de perfume
Ser motivo de um desejo canibal secreto.
Sigo sem saber.
Por ora satisfeita com o cheiro
Que quando perto inspiro e fungo
Quando longe reconstruo.
É assim que o próximo pode ser fagocitado
.

sexta-feira, outubro 03, 2008

deirios tremens em dose

Não é uma questão de covardia
Certas coisas são mesmo indizíveis
Como te falaria do ciúme
Ao ouvir teu nome em outras bocas?
Secretamente torno-me dona
Da pláteia a aplaudir morenice,
Dama das tuas palmas.
Quando em ti tudo me agrada
Calo e fecho o armário.
Está fisicamente enrustido nas minhas travas
Motivando taras.
Por ora te mantenho cativeiro
Te alimento presa em devir.
Estar longe
Não faze parte dos planos.
Não explico não respondo
Qualquer dia
Te devoro
E não te aviso.

quarta-feira, outubro 01, 2008

MUNDO DE MAQUINARIA

Essa vida rente
Todo dia me afoga um tanto
E engulo vez por vez tragos gordos
De uma salmora ácida

Imagino um cotidiano mais leve
Que me espera no próximo ponto de ônibus
Encho meus bolsos de devir
Tornando-me pesada para não ser captura

Assumamos sem demasia:
Estamos numa máquina de guerra
É preciso que se saiba o lugar onde se está agora

Em confrontos não há espaço para segundistas
Não tem lugar para indecisos
Aqui, caros, estamos falando de
Vencedores ou derrotados

Não há nada de poético nesse chão
Não há saída quando se escolhe o rifle
Não há atalhos:
Precisamos ultrapassar infantarias
E de preferência
Continuarmos vivos.


Nesse mundo de quem vê
Não existem cavalos mansos
Nem sofás domesticados
Estamos sempre armados
Prontos para abriga

Daqui de onde eu falo
Não existem plantações com coelhos de pelúcia
À minha volta tudo age selvagem
Ou você come ou é comido
Basta um descuido e pronto já foi devorado.

quarta-feira, setembro 17, 2008

auto resumo



hoje
tenho tido vontade de

lambrecar o mundo

mostrar que as coisas são mais duras

divulgar os desejos das pedras

tocar os fluídos


tenho quisto

devorar cheiros

emoldurar risos

entalhar cabeças


queria muito
fotografar peixes-boi
obervando superfícies alheias.

quinta-feira, setembro 11, 2008

sobre andre

o leão de dez anos foi
exilado deste jardim
arrancado a força
aos berros.
eu conhecia bem esse leão
e vos digo: ele não queria partir
era do tipo que gostava de ver sua juba
sendo bajulada lambida roçada
me caçava como sua fêma,
mas não a única

nós nunca vamos sarar dessa ruptura
nem o leão nem o jardim onde ele passeava
com suas dores de menino

sua captura não resultou em
uma estátua de cimento
mas gosto quando encontro uma
na rua dessa cidade
para passar a mão na cabeça de concreto
e lembrar de quando te chamava
de apólo da minha savana
canibal devorador de animais
meu querido travesseiro humano

depois de sua partida
nunca mais consegui dormir direito
lembra como minha cabeça ficava
confortável entre seu ombro e seu peito?
no fundo voce tinha razão
eu não passo de uma gatinha manhosa e mimada
disposta em ser devorada pela paixão

sexta-feira, agosto 29, 2008

repúdio confessional


certas tardes

penso em gente de jeito inconfessional

Salta-me à saliva um gosto de manhã

acre vadia e preguiçosa

Promovo minha língua suada

a um colo embalador imaginado

Não me confesso

desejos de convivências e afetos

Suponho coisas sacanas

depravando a timidez

Ignoro confessionários

os melhores segredos não se revelam


quarta-feira, agosto 27, 2008

messianismo

com uma tal morenisse suave e desafiadora
nega sua moldura
atua como se não importasse o óscar
permence de costas
para o glamour de Hollywood
para o ciberespaço dos livres-pensadores
deita de bruços no chão
amarra seu suor ao taco
carrega suas latas d'água
sem escancarar-lhes o peso nas costas
assovia boleros
e todos os dias corre
na esperança de cheiros mais canibais
porque não se interessa pela vendagem nas vitrines.

terça-feira, agosto 19, 2008

16: o desaniversário de andré

mais um ano do reverso da vida
mais uma vez a esquecer
seu falecido aniversário
e todo ano
é sempre a mesma babaquice
encho meu dia 16
de um milhão de acontecimentos
para não lembrar dos anos que você faria
Seria rídiculo comemorar seus anos ausentes
agora, quando você já não existe mais
Acendo um cigarro para ti
e lembro-me nostálgica
do seu mal-humor em dias
que não desejava comemorar os anos
Seu medo era envelhecer
e no final não tem mais que se preocupar.

segunda-feira, agosto 11, 2008

leão negro do recanto

Ele um tipo dionisíaco de Apolo
Escolhe suas ninfas
Para satisfação de seu
Status estético
Tornara-se o sonho de cama
Das mulheres locais
Motivo de feitiços
Rótulo de caldeirões
Degustador de damas
Representante máximo
Da orgia canalha
Culpado pelas unhas vermelhas
Nos copos borrados das desilusões.

um suspiro em londrina de são carlos

A fantasma do quarto ao lado

de onde eu venho
a galera divide uma marmita
e economiza dois paus
para uma cerva no boteco

de onde eu venho
os donos do bar
penduram um sanduíche para curar
a bebedeira da gente

de onde eu venho
a gente dorme tudo junto
amontoado vendo um seriado qualquer
no gato de tv a cabo do vizinho

de onde venho
as portas não exigem identificação
e os quartos estão sempre abertos
ao plural

de onde eu venho
tem sempre alguém pagando
a nossa parte da conta

de onde eu venho
os ombros não exigem explicação
e os colos são gratuitos e quentinhos

de onde eu venho
somos fortes porque não somos um
somos muitos
comendo pelas beradas das desoportunidades da vida
estamos sempre em banquetes

terça-feira, agosto 05, 2008

reverso dominical

poucas vezes consigo
me entregar ao acaso dos acontecimantos
Neste domingo foi assim
um soco na premeditação
e um mergulho na gandaia
Há tempos não me divertia
É bom saber
que as coisas podem ser divertidas
e que as trilhas sonoras
também podem inspirar garagalhadas
mesmo quando se trata de
la vie en rose.

quinta-feira, julho 31, 2008

mini sessão de auto-análise

Prefácio biográfico
Alguma maioria das coisas na minha vida
Não mereceriam um verso sequer
Mas todos esses presságios líricos do descontentamento
Chamam para si a minha literatura
E parece que esse é o preço a ser pago.

Fresta soturna na janela da Alexandrina

Na ante sala fico a habitar um imóvel mudo
Em frente da gaiola tem um poste plantado
Ele acende e apaga a cada dez minutos.
A última cerveja não deve ser compartilhada
Quando se está em crise solitária.
Pudera agora concretizar os desejos do corpo.
Tem um galo uníssono cantando agora
E revela-me um segredo
Que finjo ignorar.
As pessoas têm outras coisas para se preocuparem.
Eu não. Quero satisfação total e agora.
Almejo lapidar meus textos
Mas certas coisas como eu mesma
São ilapidáveis por excelência.
Permaneço com os versos toscos
E sigo pensando que aconteço.
Não encontro ouvinte para meus gritos.
Fumo e bebo como deveras sente.
Resta-me o último corpo
Antes da solidão do sono.
Não sou senhora de mim
E preciso de certos cuidados
Quando o poste se apaga.

quinta-feira, julho 10, 2008

inspiração de piaf

na maioria das vezes
quando penso muito em alguma coisa
ela acontece
mas hoje não foi assim
acabo em frente a tela tremente do pc
retirando os adornos da noite
mal vivida
ouvindo piaf
e pensando que a vida
poderia ser bem melhor
ou bem pior do que essa que me venderam

quarta-feira, julho 09, 2008

resumo semestral dessa ópera são carlense

Tenho chorado
quase todos os dias
mas isso não me comove mais,
passou o tempo de comoção ou redenção.
Sinto falta dos meus.
Mudo de cidade
carregando mortos na bagagem
e saudades de alguns ainda vivos.
Meu melhor herói está longe
e ainda não posso ir vê-lo
trabalho diariamente num bar.
Longe do meu parcerinho de lutas,
todas as guerras de tolhas perdem o sentido.
Passaram-se seis meses
e quase nada me apaixona
pouco me emociono.
Algumas vezes
divirto-me com alguns importantes amigos de bar
salvadores da depressão diária.
Penso muito em sexo
mas o fato é que pratico pouco.

ao dono da casa de madeira

Faço graça
para que me devore ao me olhar
com seus dentes de perfurar crânios
Me desenho para que me pinte
me enquadre,
para que venha mais vezes
morder minha cabeça
Gosto de estar no céu
dessa boca de leão
Queria ser sua presa mais vezes
raptada por esse veículo anos 80
Ontem promovi um desfile
despi-me das poucas peças
desse meu arsenal de vestuário
e fui habitar sua ilha
com minha nudez
úmida e safada

sexta-feira, julho 04, 2008

josé o pai

É sobre você que falo
Quando penso em super-heróis
De todas as coisas
Sinto falta da tua dicção
Dos pensamentos em maré
Daquele barco a velejar no mesmo porto de sempre
Você em sua própria Dublin
Consegue mover estátuas sem alterar as paisagens
Foste, e será sempre, o meu maior medo
A minha maior importância
No fundo o que quero
É ser como você
Do meu jeito
Acho que no final você sempre
Acaba ganhando a razão
Isso me injuria às vezes
Aquilo que sinto
Vai além de um amor de pai e filha
Supera qualquer grau de parentesco porque
Sempre terei esse amor cúmplice a te oferecer
Eu sei
Não é fácil ser meu pai
Nem ser sua filha
Sofro com a ausência
Do nosso convívio
E sempre penso em você durante noites com pesadelos
Obrigada pela bicicleta
Por acreditar que posso pedalá-la
Pela chave do disco voador
Pela falta de espaço nos estacionamentos
Pela âncora solta no mar
A única coisa que temos
Somos nós mesmos
Gostando ou não
Te amo pai
E essa é a tua melhor cena
Ser pai de uma gente
Que só desenha orgulho
Com os lápis nas calçadas.

quinta-feira, julho 03, 2008

troca de desejos dádivas

Explico: as duas postagens anteriores são os e-mails de pai-jose para mim.
Essa insistência de retorno ao mesmo tempo que me comove, me enlouquece.
Porque, por aqui nada está fácil...E tenho mesmo me questionado sobre a validade cósmica de tanto soco na parede.
Que a vida não seria fácil para minha vivência biográfica eu já tinha sacado aos dezesseis; mas aos vinte e seis estou esmorecendo.
Estar num mestrado e trampar num bar, nunca ter grana para nada, não poder viajar nem nada. Tá tudo muito austero e não tenho com quem partilhar tanta austeridade.
Talvez ele, o pai-jose, tenha razão: esse ciclo intelectual de auto-masturbação não faz a digestão de minha pessoa, sou ácida demais para ser tragada pelo estômago da Academia.
Mas sinto que não é hora de jogar a toalha, alguma coisa de boa tem que acontecer afinal. Além de colecionar livros na cabeça preciso mais da vida, meu conhecimento precisa do empírico mesmo, do toque e do cheiro das coisas, quero morder sentimentos e sorrir garagalhadas de boca cheia.
Queria mesmo que meu pai guru, pudesse de fato com seu imperativo de desejos gritar para eu fosse feliz e eu plim ficasse sendo feliz. Mas ele não pode, apesar de sua autoria em muito do que seja eu.
De todas as marcas impressas, espero que apenas as mais belas permaneçam nesse corpo-memória.

insistência de pai josé

Você não respondeu minha última carta!
A missiva enfatizava o argumento de seu retorno imediato ao ninho.
A grande maioria dos bichos (peixes, mamíferos aquáticos, mamíferos) retornmam ao berço de suas natividades.
Argumentava eu a imperiosa necessidade de seu retorno ao lar para a realização de seus objetivos: a criação literária de seus pontos-de-vista.
A argumentação é vera e absoluta.
É tempo de voltar para casa porque é tempo de atingir o mundo com suas idéias.
"Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo propósito debaixo do céu:
há tempo de nascer e tempo de morrer; tempo de plantar de tempo de arrancar o que se plantou; tempo de matar e tempo de curar; tempo de derribar e tempo de edificar; tempo de chorar e tempo de rir; tempo de prantear e tempo de saltar de alegria;
tempo de espalhar pedras e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar e tempo de afastar-se de abraçar; tempo de buscar e tempo de perder; tempo de guardar e tempo de deitar fora; tempo de rasgar e tempo de coser; tempo de estar calado e tempo de falar; tempo de amar e tempo de aborrecer; tempo de guerras e tempo de paz"
"Geração vai e geração vem; mas a terra permanece para sempre. Levanta-se o sol, e põe-se o sol, e volta ao seu lugar, onde nasce de novo.. (...) Toas as coisas são canseiras tais, que ninguém as pode exprimir: ... O que foi é o que há de ser; e o que se fez, isso se tornará a fazer; nada há, pois, novo debaixo do sol (...) Sim, tudo é vaidade e correr atrás do vento".
Amo você.
Venha tornar-se universal sendo aldeão.
Amo você.

sexta-feira, junho 27, 2008

de pai para mim

Ah! Que bom seria se eu fosse mágico!
Que bom seria se eu determinasse meu destino e meu falar realizasse prodígios!
Eu diria:
- Thais! Venha. Esteja aqui, agora.
E eis que tu serias transportada por um portal e surgiria à minha frente.
Mas, se eu pude te transportar pelo espaço-tempo o que não poderia eu?
Poderia até fazer-te feliz!
Poderia até dizer: Thaís, seja feliz!
E Thaís seria feliz. Para sempre feliz, como as puras donzelas dos contos infantis.
Larga tudo aí e venha ver-nos, mesmo que um pouquinho!
Mande às favas eruditos empertigados e chucros.
Mande às favas esses narcisos embriagados do próprio leite.
E venha para casa.
Mesmo que só um pouquinho!
Amo você.
Amo você.
E faz tempo, hein, que te amo, quase muito tempo mesmo.
Mais de um quarto de século é o tempo de mau amor.
Puxa, estamos a envelhecer!
Quem diria?
Parece bastante tempo,
mas o que é o tempo senão uma idéia conceitual demasiada humana. É um conceito, nada mais.
E se se trata de um conceito, têm-se tão só uma abstração, uma representação dum objeto pelo pensamento, uma idéia, uma opinião, uma sugestão, um preconceito, um achar subjetivo que ganhou ares de universalidade.
O tempo é então o meu pensar e avaliar matematicamente a dimensão e o status resultante do movimento de rotação e translação da Terra descrevendo uma elipse alongada.
- Que sei eu? Diria Montaigne.

Tchau! Fale comigo.

domingo, junho 22, 2008

entrave das seis horas

desenhei um beijo no domingo
na retórica o mundo fica mais aconchegante
passei um ferro no cabelo
queimei mechas de navalhas
acomodei todos os espinhos
larguei o vestido
fui ao bar como quem vai à guerra
Não sou intelectual
nem garota genial
nem o raio que o parta
fico os dias afiando
agulhar para romper as bordas da noite

sexta-feira, junho 20, 2008

ao pai ausente sempre presente ao pai presente ausente

essa é grande incógnita
esse cara que não sei classificar pelo parentesco
que me faz juz ao improvável
que rompe as barreiras do familiar

esse é o grande cara
que me apresentou ao mundo
das dores e das delícias de ser o que se é

não bebo o leite dos masturbadores intelectuais
e a culpa disso é dele
não me convenço
não retrocedo
nem sigo adiante
porque falo sempre desse presente austero

estou sempre entre uma garotinha
arteira e perturbadora
ou uma mulher destinada ao sexo intenso e duro
frágil e esfacelante.

Isso ele nunca irá entender.

quinta-feira, junho 12, 2008

antesa cruz à cavalo

para hoje
apenas aquilo que pouco se diz:
o que se pretende é um sexo
assim imaturo.. sagaz, e nominativo.
Não agüento isso de ter daquilo que não me tem.
Quem me conhece sabe.
Acho que deixei de me importar,
mas é mentira.
Prefereria ser o calvário nos dias santos
na inovação da rua
do que o cavalo que sempre dorme em pé.

segunda-feira, junho 09, 2008

açougue de seu silva

Fui posta crua
Em pêlos sobre uma cerâmica qualquer,
Dessas com alma de plástico barato.
Gosto de me apresentar sem entradas
Sem promessas de sobremesa
É, a carne é dura mesmo, meu caro;
Mas o coração ainda está meio mole
E acho que não por muito tempo.
Não adianta ser lavada em banho-maria.
Permaneço rija, músculo de pescoço,
Parte não nobre do conjunto
Das peças femininas expostas na vitrine
Num açougue da Av São Carlos

sábado, maio 31, 2008

para iara


me emociono ao saber

que minha fadinha de sampa

está assim

bagunçando os festivais de literatura

e fazendo poesia,

de todos ela é única com

direitos autorais

para o caos no mundo alheio

ou para imaginar

guarda-roupas de bonecas

sexta-feira, maio 30, 2008

banquete


para teu almoço

descasco-me do casco

operante em dias de batalha.

enfeito a mesa com as pétalas

plastificadas de petróleo

unto bacias amarelas

rego-me de sangue e suor

arrumo os guardanapos

e espero tua garfada


sexta-feira, maio 23, 2008

ser e estar

queria existir agora de verdade
sentir que as coisas
estão além da minha percepção
que posso abraçar bonecas
torna-las filhas sem
lhes ser a mãe
apalpar mortos sem que isso
fosse necrofilia
amar vivos sem que isso
fosse impossível.

RECANTO

A única companhia
são os pensamentos.

O resto são homens
a exibir masculinidades ou
indicar algum homossexualismo.

Observo o bar
repleto de solidões conjuntas
a diagramar contínuos perecíveis.

Às vezes, e na maioria delas,
tenho a síndrome do tiozão:
sentada ao lado dos outros
ouvindo conversas íntimas,
discussões políticas e
retrucando com o pensamento.

O trabalho noturno
estimula a volúpia de ser estimulante
imaginante,
mais retórica do que empírica.

Preocupo-me ao gostar
de estar só com a minha cerveja;
isso não deveria ser
algo contemplável a uma garota de
vinte e poucos.

Mas devo ter nascido aos quarenta,
ouvinte e intransigente.
Pedra ilapidável no garimpo.

quinta-feira, maio 22, 2008

Autopredação

Na horizontal dos feixes de ralações
No leito da rede de pesca
Lançada sobre meu repouso
Torno-me isca e pesca
Presa e caçador
Alimento e dente
Sem revisor conjugal
Promovo pequenos festins diabólicos
Em que sou o prato e o degustador
Nesse emaranhado de sensações e predações
Atuo sem pláteia
Num âmago de sensações
E sabores.
CATIVA-ME
Desejo agora
Ser surpreendida
Pelo saci do disco-voador
Ser roubada apreendida
Tomada de rama por outro jardim
Regada de sentidos
Virar assim
Um algo que se morde que se aperta
Que grita silenciosa pelos ares
Estrondosa pelas paredes
Que dispensa lapidações
Por preferir o estado bruto.

sábado, maio 17, 2008

humor fágico

certos dias como estes
faço senhora de mim
e caminho sobre as cabeças
a esmigalhar grânios

quinta-feira, maio 15, 2008

nego logo afirmo

Amanheço
Com a possibilidade
Do cainho ausente.

Anoiteço
Com a certeza de um corpo
Em não ateridade

Eu sei ser amada
Não sei ser sujeito
De amores

Talvez por isso
Reafirme tanto
A ausência
Daquilo que não está à minha volta.

domingo, maio 04, 2008

anti-rapel aos vinte e uns

perdi os traços
que pontuavam
o limite da solidão
e agora é tudo
o que habita
meu solo
canibal dos sentidos

farta de reprovações
invento um outro retrato
e nem por isso
me satisfaço

o balcão tem estado amplo
bebo a intensidade de se estar só
em plena alteridade

o materialismo nunca me convenceu
e a ausência é
o único topo dessas profundezas

aquelas pernas de paus
não me servem mais
desço dos degraus
sem me resignar dos equívocos
porque são
tudo o que eu tenho.

segunda-feira, abril 28, 2008

ANTROPOLOGUES

VISTO-ME PARA A ANTROPOLOGIA
DESCUBRO AMORDAÇADA
QUE PIOR DO QUE SER NATIVO
É SER ASPIRANTE A ANTROPÓLOGO.

quarta-feira, abril 23, 2008

VONTADE DO URUBU


PAUSA NA SENSIBILIDADE!



AFIO AS FACAS

PERFURO O ANUS DA VIDA

ESTOU PRONTA

PARA DECEPAR CABEÇAS

EMOLDURAR INTELECTOS

DEPENAS POMBOS

EXTERMINAR ABELHAS E

ME EMBRIAGAR DE MEL CAPTURADO



AGORA

POLUO O MUNDO

COM PENAS QUEIMADAS

REBELDES

COR DE PICHE



PARA INCENDIAR BIBLIOTECAS

É PRECISO MAIS

QUE UM FÓSFORO

MAS,

APESAR DISSO

CONTINUO A

ARRECADAR ROJÕES



E MAIS UMA VEZ

ACIONO O BOTÃO DO

FODA-SE

E PROGRAMO O DESPERTADOR

PARA A PRÓXIMA MANHÃ








BLACK OUT

REVELO-TE AS GARRAS
DESSE SENTIMENTO
NÃO ME INTERESSAM AS FUGAS
TAPO OS OUVIDOS
E TE EMUDEÇO.

domingo, abril 13, 2008

GENTE DE MATO

E OS INDIVÍDUOS?
NÃO TEM INDIVÍDUO AQUI.

MAIS A NOITE,
REVELOU AS GARRAS
DESINTERESSADO
PELASAS FUGAS DAS PRESAS.

segunda-feira, abril 07, 2008

E QUEM ME GUARDA?



NA CIDADE DO CLIMA

A CHUVA SEMPRE VEM ANUNCIAR

AS SOLIDÕES

AS BOAS COMPAINHAS

OS DESEJOS NÃO VERBALIZADOS

TEM GENTE QUE CONSEGUE

PRODÍGIOS

COMO SENTIMENTALIZAR

GUARDA-CHUVAS

É COMO JÁ DISSE

ANA CRISTINA CÉSAR:

"É IMPOSSÍVEL ANCORAR UM NAVIO

NO ESPAÇO"

MAS TEM GENTE QUE ANCORA.

sexta-feira, abril 04, 2008

chuva que cai maneira

Ganhei seu
guarda-chuva
quando nos encontramos
a gente faz chover
no sertão
desses dias urbanos

te trago águas para banho
me vejo
a lamber tuas enchurradas
ensopar teu colo
desmembrar concretos
umidecer teus sonhos
secretos e vertiginosos

espero pelo dia
em que te cause delirius tremens
o que importa
é torcer roupas
no sol desse quintal
inabitado

Não darei nomes a sentimentos
Não direi sobre sensações dessa chuva
que me traz sua presença
Poderia contar versos
e te enumerar neles
mas te dissolvo em mim
e caminho molhando
sua imagem presa na retina
do castanho espelho no meu rosto
Qualquer dia
me enrolo na sua toalha.

é tanta calçada que não consigo andar

Surge a questão:
o que eu deveria estar fazendo mesmo?
que lugar é esse?
De onde eu venho o buraco
é mais embaixo
o rio é mais fundo
a poluição é cancerígena
Penso em insetos
subjulgo-os e
almejo querer sê-los.
Imagino qualquer coisa que seja diferente disso
Decepiciono os pensamentos acadêmicos
a beca nunca combinou com
minha cara de imprecisão
Caminho só
ignoro placas de trânsito
rompo no impulso da materialidade
me aperto no tronco
decoro meu dorso
Voce aparece e
chicoteia sua eternidade
devido a sua ausência permanente
Aquilo que morre fica eternalizado
nos que perecivelmente ainda vivem
Não me habituo com o que não conheço
Ocupo o último lugar do pódio
Não espero promoções
Acredito nas tolices
de querer ser vento
e dissipar ideais.

segunda-feira, março 31, 2008


SOBRE NAVAGAÇÕES

PREFIRO MARÉS CALMAS
DO QUE CAMINHAR SOBRE TRILHOS
NÃO EQUILIBRO MINHAS DORES
EM PONTAS DE LANÇAS
NÃO ARREMESSO FACAS
NEM VENERO VACAS
DESMONTO MENTIRAS
SEM EDIFICAR VERDADES
COLECIONO CANETAS
IMAGINO DIAS MAIS COLORIDOS
SELECIONO CIGARROS
E TRABALHO DE NOITE
PARA PAGÁ-LOS
SOU UM COMPÊNDIO
DE DESILUSÕES
E ALGUNS VÍCIOS

domingo, março 30, 2008

desejo de domingo

queria mesmo
uma abraço
um colo
uma rede
ter um peito quente
que me descanse aos domingos
uma valsinha
algumas cachaças
um lábio
pronto para ser degustado
uma sacada
uma árevore de crenças
uma raíz de fé
uma voz
que me escute
e que lamba
minhas feridas.

quinta-feira, março 27, 2008

TEM CHARUTO NO ORIENTE?

TINHA AINDA
A CHAMA ACESA DO VELHO CHARUTO
RIU-ME
MAIS BÊBADO DO QUE DE COSTUME
APAGOU A BRASA DA VELA
NO MEU ANTEBRAÇO
ANTECIPANDO-ME
DORES FUTURAS

QUERIA PODER
QUERÊ-LO
A ASSISTIR MEUS CAFÉS

ANTES DE IR EMBORA
ABRIU SEU LEQUE
COLOCOU-ME EXTERNA AO BIÔMBO

ENCIUMADA
VOLTEI A PLANEJAR SOLIDÕES.

quarta-feira, março 19, 2008

Resuminho biográfico do dia

Tenho ficado enjoada
de comer pastos
ruminar gramas simbólicas.
Pudesse eu pensar
como anta
e me chafurdar de lodo
como se rolasse em lençóis indianos.
Minha companheira de pessimismos
está se engerando numa topeira
da metróple.
Sinto saudades das nossas escavações.
Ao caminhar hoje
fingi passear com meu
antigo cachorro- urso
e seu fiel dono não-escoteiro.
Meu pé de amigos
está carregado de lembranças
e fico a regá-las
porque gosto
de unhar-me em seus espinhos.

terça-feira, março 18, 2008



fico aqui

cimentando lágrimas

em salas com

várias pessoas

em telas de alucinação

ninguém entende

o sentimento

do pixel.

Meninice de Clarice

Lia seus cardernos
imaginava uma gigante mitológica
Mas de perto o que se vê
é a síntese da meninice
Sentadinha
Hiperativa
Em posição de lótus
sobre as mesas
a tecer redes de falas
desarmar cirandas
esconder-se em troncos
ronronar miados
e conversar com gatos
sabendo que eles podem
ouvi-la.

terça-feira, março 04, 2008

Açúcar matinal da semana

Pela manhã
varri as folhas do meu
quintal temporário
Não pertecer a um lugar
permite que
o tiro seja mais certeiro do que nuca
Não intento assassinar ninguém mais
além de todos
Sentimentos não ditos
explodem angústia em meu sorriso
E como é bom ser simpática
e cordial com uma navalha a cada mão
Se tivesse coragem causaria mais estragos
mas minha escritura
não assusta ainmais de estimação
Vou diluir minha raiva
minha vida opaca em café solúvel
Gastar toda a grana
conseguida em trabalho temporário
no boteco mais próximo
E fingir que é sublime
estar vivo e estudar antropologia.

segunda-feira, fevereiro 25, 2008

pensamento de estudante

Para hoje queria
um pé de cigarros com filtro vermelho
em meu quintal
com acendedores automáticos
e passagem rápida
com almoço gratuíto
e cervejas servidas
com interesses sexuais.

terça-feira, fevereiro 19, 2008


LAN DE SANCA

POR AQUI
O VENTO TEM ESTADO MAIS FORTE
OS TEMPORAIS
MAIS SEDUTORES
OS BOTECOS
MAIS REFLEXIVOS
A COMIDA
MENOS FARTA,
QUASE FALTOSA
E OS BARALHOS
AINDA CONTINUAM AUSENTES.

sexta-feira, fevereiro 08, 2008

CARTA A ANDRÉ

Acabo de arrumar as coisas
Deixo uns trapos para trás
Carrego um substantivo coletivo
de oitos malas sujas e esfarrapadas
Não conheço ninguém
de lá pra onde eu vou
Não estou reclamando
só reafirmando que consigo
não há mais minhas reabugices
Encontrei um poema que voce escreveu
um dos poucos
pois não se julgava digno da arte
e te pergundo, meu caro ator
quem é que é
o que dignidade tem a ver com isso?
Detalhes cadastrais nunca nos interessaram
Sei que está fora do jogo
isso deve ser bom, não sei
mas sempre está na minha coxia,
por cima das minhas cortinas
a arranhar feltros e veludos
no verão das cidades que habitamos
Agora eu e meu próprio peso
parecemos mais engarrafados do que nunca
estamos partindo para perecer mais devagar.
Lembra da tua obra?
"Tempo tão cru
ao mesmo tempo
tão cú comigo
Mesmo que tanto tempo
esvai sem saber
o quanto de tempo
te quero e te amo" André Ricardo
Falta faz-me ser sua diva
seu demônio
sua cúmplice nos atentados
ao cotidiano cimentado.

terça-feira, fevereiro 05, 2008

aterrisar onde?





Mesmo sem saber sobre

deusas e marés

ateio fogo ao barquinho do conforto

lanço-me pela água

escura e densa do desconhecido

na inteção nítida

de querer ser mito

acordo todos os dias

e cultivo asas.

Afinal, o balão precisa

de um gramado fofo e úmido

entre um vôo e outro,

ou no caso de uma desastrosa queda.

segunda-feira, fevereiro 04, 2008

mudando tudo
de tudo
de novo
a querer
ver em breve
tudo de novo
em cenário diferente

CARTA A UM ODE



DE VOCE TENHO FICADO

MAIS DESERTO

IMAGINO UMA FLAUTA

QUE NUNCA IREI TOCAR

SÓ PELO PRAZER FÁLICO

DESTE INSTRUMENTO.

(tentativa de ser alegre- 1975 Clarice Lispector)
SE VOCE TOCASSE SAX

NUNCA TERIA TE ABANDONANDO

AINDA ACREDITO NESTE SENTIMENTO

MESMO SEM PROTAGONISTAS DA FARSA


NÃO TENHO RECONHECIDO VIDA

EM CANTO NENHUM

FORMAS NÃO ENVOLVEM MEU OLHAR

E VOCE NUNCA TOCOU NENHUM INSTRUMENTO


HOJE UMA DAS HÉLICES

DA ANTIGA AERONAVE QUE HABITÁVAMOS

VOLTOU PARA SUA VIDA ADULTA

E SEU EMPREGO FIRMEZA

TENHO CERTEZA QUE FICARIA ORGULHOSO DISSO

DE TODOS VOCE SEMPRE FOI

O MAIS AVOADO

AQUELE QUE VOARIA DE QUALQUER JEITO

MESMO QUE FOSSE NUMA EXPLOSÃO

A LANÇAR TEUS PEDAÇOS SOBRE

NÓS QUE RESTAMOS POR AQUI

A NOS LOCOMOVER

PARA NÃO MORRER DE TÉDIO



quarta-feira, janeiro 30, 2008

torneira de vida

Uma amiga disse que
a morte é uma goteira
e os dias tristes são mais belos quando chuvosos.
Concordo
mas a gotera
não cessa com o sol
não seca com os dias de verão
não estanca com risinhos inúteis
A verdade é que
tudo perdeu o ritmo original
e só ouço
o barulho do pingar
na panela suja de molho madera
A vida não tem
mais gosto
sem aquele tempero do chef

quarta-feira, janeiro 23, 2008

ando tão Mauss
que ultimamente
ao invés de porres homéricos
fico bêbada com Levi-Strauss

quarta-feira, janeiro 09, 2008

Parto do parto

Esses preparativos para a fuga
Fazem-me mais feliz
e diminuem ao mesmo tempo
as asas do impulso
Agora vou partindo
só sem teto sem trampo
Abro o asa delta
e espero uma boa corrente de ar
onde o clima seja mais ameno
os bares mais cheios e os
banheiros mais sujos
Abandono vagarosamente as âncoras
de uma vida fácil
e programo o arremesso
do corpo em queda-livre
pronto a ser estatelado
em outras calçadas
Outros ematomas
mesmos joelhos
Sincronizam-se em
passeio etílico da recente versão
de humanidade e animalidade
fundidas.

sábado, janeiro 05, 2008

contorno de areia



Na sala da minha casa tem um buraco negro

No centro desta cidade tem uma caveira de burro enterrada

Há estradas para percorrer

e um sol que não anima muito

Todo dia todo café

algumas coisas não mudam nunca

Não tem nada acontecendo lá fora

nem aqui dentro

nem no meio disso tudo

Estou prestes a fugir

mas a insanidade não muda de endereço

Minha grana continua curta

e isso era para ter mudado

nem por isso ejaculo dissabores

até divirto-me com isso

e testo amizadaes em investimentos

Acho que desencanei de ser algo

por isso fixo meu balão no poste

sem iluminação e sinto o vento bater

raramente bem de vez em quando

Nesta selva os furacões

não animam minhas pipas.

sexta-feira, janeiro 04, 2008

de novo o tal do novo

Continuo assim nesta
história de virada e tudo
Nem bonita nem feia
Nem satisfeita nem infeliz
Nem atleta nem alcoólatra
Nem ilesa nem viciada
Nem filha nem mãe
Giro a pomba
embaraço venenos
passo em cimentos
patino asfaltos derretidos
acumulo jornais não lidos
Ainda sem grana
sem companhia
enfrentando sóis
passeando com a boxer
Admirando paisagens etilícas.
Estou por enquanto
como leitora da minha
vidazinha invisível e desimportante.