um banho quente de tesão e ação de pensamentos absurdos

domingo, novembro 13, 2005

quere saber

não sei de mim
não sei de você
não sei de ninguém.
o que digo são
palavras cruas
calcificadas de carne e sal.
o que penso são
alucinações profanas
servidas com espagueti à bolonhesa
sob o mármore da mesa de jantar.
o que quero é não querer nada
nada ter que sofrer nada ter que amar
não quero me compadecer.
quero o aço quente
entrando na garganta
e esculpindo as lágrimas futuras,
e deveras esquecidas
pelo isolamento
cáustico da caverna tua
de solidão e ausências.
pra mim,
os teus farelos de gente
e uma dose
morna de sangue venoso
das tubulações apodrecidas dos dias.

O exílio do cão

UMA INSPIRAÇÃO!,
Eu berro.
E ela vem,
meio que caminhando e cantando...
Não sou mais rebelde, porra!
Mude essa roupa colorida que não te cabe mais
Guarde tuas petúnias
amarelas para enfeitar tua morte e tua caixa.
Olha, se continuar vacilando
eu te amarro
no escuro do sótão mofado
que ocupou o lugar de seu antigo
jardim desenhado por esperanças suicídas.
Não adianta mais,
o amor livre migrou
com os seus irmãos patos
para o fim do mundo mais próximo.
Venha também querido,
e traga suas armas de fogo,
porque o que resta agora
é só selvageria.

sábado, outubro 29, 2005

ingrid: um entrelaço sangüíneo

VAI, ser feminino e vil.
VAI ser "gauche" na
urbanidade interiorana de
suas quase paixões.
Continue a passar pelas multidões
entregando os músculos de sua ama encomendada
para a inquietação sentimental
Não deixe de enrrugar as peles da testa muda
e reforce os passos daqueles braços de
peso agradavelmente eterno e
filialmente materno.
Saudades das bochechas suas em constante vermelhidão,
proporcionalmente marcadas pelos beliscões
do cotidiano pouco nítido.
CORRE, sua Menina-Mãe, pegue
sua criaça pelo pé e
espere ela te ensinarna dançar
um velho bolero italiano que canta o amor perdido
ou possívelmente conquistado.

ossos de menino

um choro
um lamento
um escremento
pra encher as fraldas
da insatisfação felina
Um dente semi novo
meio quebradiço
se postula
para fora cavitacional
da caverna humana de ares e dores
Corre para o jogo eterno de bolas-mundos
"chuta aí!"
Escorrega repentinamente na língua do futuro,
este ser desconhecido inevitável e repentino
para simplesmente cair
no paralelepipedo endurecido
de vidas maiores que a sua inicial carreira
de humano e herói

sexta-feira, outubro 14, 2005

Jorge Ferreira (deliberadamente roubado do blog rasgamortalha)

A caminhada da angústia ao poema
se faz de tombos e papéis rasgados.
A margem que a define, tão pequena,
não nos salva do abismo inesperado.

Se caímos, aí também nessa queda,
estão os germes de uma nova idéia.
As feridas que temos como sequela,
rompendo o casulo farão sua estréia

um dia, como coloridas borboletas.
O fel que tu guardas dentro do peito
trará à tua boca a doçura insuspeita.

Por fim, o pequeno monstro respira,
contorcendo-se às bordas do leito,
sua boca cheia de preces e mentiras.

quarta-feira, outubro 12, 2005

Mutilação Sensorial; Performance da Incomunicação ou dia do Nada

E assim mudos e com os corpos calados
em sua singela carnificina de sal
os dois seres são postos à frente,
com os sentidos mutilados.
Sarcasmo, sadismo ou masoquismo?
Talvez, nenhum desse conceitos ocidentais
possam descrever a incomunicação sensorial
concedida, programada;
com lugar, hora e dia pré-estabelecido, pautado.
A visão: a mais significativa cosmovisão
do nada permanece estática em sua cegueira exterior;
olhando-se para dentro das entranhas,
das vísceras, do vara de carne-seca
que habita o buraco posterior ao esôfago
chega-se ao caminho da putrefação.
até dava pra escutar o barulho abatucado do tímpano
reagindo ao silêncio das memórias;
pra dentro e para trás:
a película movimenta-se como se querendo
fugir da morbidez auditiva;
sem, no entanto, conseguir.
Quando não se tem o que dizer,
ouvir torna-se estritamente desnecessário,
desinteressante e principalmente desaconselhável.
O emudecimento faz do som dos fonemas
uma parede de tijolos e concretos,
tal qual muro de berlim
(só que um tanto mais endurecido pelo vazio silábico
que as verdades acreditam possuir)
A sonoplastia perde seu ator principal,
e, aí, se apresenta apenas com os coadjuvantes
num cenário de gesso papel crepom e roupas
despossuídas de um conteúdo dérmico-carnal.
Nada mais será dito sobre nada.
Pra ver?
Existe uma praça onde moram galinhas e
camelôs que no entardecer noturno
veste-se de uma desmemoriação corpórea do absurdo:
eis a praia do nadismo, o jardim dos pombos.
Diga-me o que pensas
e eu não te direi quem és.
um auto-retrato
pseudo-semântico de minha
quase existência
cibernética

frentes frias de um verão insólito

Passou um Katrina
na retina ressecada do deserto

É segunda-feira,
a segunda vez que o dia tenta sobreviver
aos 600 graus do carvão solar efervescido

Mas,... ainda faz um frio enorme nas
sombras dos telhados úmidos
de uma periferia que ainda
não conheço muito bem

Os livros gritam uma canção da década passada
em coro sustenido
de saudades abandonadas

Ser criança é uma condição exclusiva
de corpos fortes,
resistentes à racionalidade
dos unifromes pós-industriais metálicos

Existe no interior de São Paulo
um menino aéro que
quando dorme vira lobo
e quando acorda come o bolo de minha avó.
Ele pensa que pensar
acontece sem esforços mutilacionais
Ele se pretende voador
de nuvens empoeiradas
do azul marítimo do desejo alheio.

Os táxis amarelos de Pequena-Londres
embarcam anatomias pré-fabricadas
de carnes em congelamento,
preparadas e condimentadas
para servir sobre o mármore fúnebre
daquela mesa soturna,
envolvida pelo rebanho
de humanóides quadrúpedes
que tomam os vinhos
de alguns dos pés amarelos
que sustentam os franzinos severinos dançantes,
ou dançarinos?

quinta-feira, outubro 06, 2005

Otávio Ramos

"As idéias entranham no organismo.
Meu corpo. Morto. A alma? Paira, névoa insubstante. Viaja, equívoca, para Lisbonne, para Lisabon.
No éter flutua eternamente.
Quem é que? O que sou?
Quem há de?
Memo. Mímese. Voa. Ruína. E eu, morto.
Gigante dos incontáveis atos. Bandido sôfrego do esqueleto da vida. Pálido noivo de estrelas; popstar.
Cúpulas do Colégio Arnaldo, árvores do Parque Municipal, Edifício Arcângelo Maletta!
Mafiazul, Galoucura.
- "No money, no funny", disse Eva.
Quatro girafas corriam pela estepe africana quase em câmera lenta enquadradas, corriam soltas, assustadas, pela tela de TV.
O mundo animal. Eu acendi um cigarro.
Eva olhou a boca no espelho e passou o batom. Riu, escancarada.
As coxas brancas de Eva.
Estou morto. Fedo.
Fodemos, eu e Eva. Gozamos. Sofremos.
Na rua. Nuvens são como espuma branca do creme pós-barbear.
O tédio dessas tardes me deixa ensimesmado.
Meu corpo. Vasto território ignoto. Meu cérebro.
Feliz? Tanto faz."

quarta-feira, setembro 28, 2005

um pequeno assombro poético

BASTA UM
SUSPIRO NA
SUA BOLHA DE SABÃO
E PRONTO
JÁ ME EMBEBEDEI DE VOCÊ.

Quê de poesia

Pausa no transe xamânico
da literatura marginal.
Os dias passam
em fantasias
semi-novas e semi-valhas ao mesmo tempo
Não, não é a metamorfose
da maior festa do mundo,
são apenas pernas imaginativas
que sobem infinitas escadas
de descontentamento e abandono.
Seus degraus perambulam
bêbados,
imersos na farsa da vida real.
Saltemos o trampolim
das inquietações semi-racionais.
Para os bichos
um osso flácido com carnes esponjosas
de veneno adestrador
Para os humanos
lascas de um copo americano
quebrado em ondas cósmicas
de líquidos fornecedores das almas futuras
Para os semi-deuses
pequenas vidas pálidas um ppuco saltitantes
Para os deuses
sonhos de uma forçaque adicionem sua existência
no campo cosmológico da fé alheia
Para os escritores
letras, cachaça e bolgs.

terça-feira, setembro 27, 2005

Café Caneca




conversas vagabundas de botequim
pífias poéticas
e uma dose dupla de gim

(sem tônica, só gim)