um banho quente de tesão e ação de pensamentos absurdos

domingo, outubro 26, 2008

domingo cheiro de pedra quente




Amarro minha fita, agora sim estou pronta, armada para o desenrolo. Sento-me à escrivaninha e digo: só saio quando tudo estiver pronto. Mas de fato se fosse assim, apodreceria por aquele quarto com chãos de tacos soltos. Faz calor de forma intensa. Entre um texto e outro penso no bar, na cerveja, penso na Luana e na Iara depois de um almoço com corações de galinha. Alguns de quem gosto muito estarão fora por esses dias. Vai ser bom dedicar-me um pouco mais a mim. Mas, se não fosse o calor, seria mais fácil. A casa está sozinha... agradavelmente sozinha e em silêncio. Brindo na minha cabeça pelas parcas coisas que possuo, por aquelas que abandonei; brindo à minha corajosa vida covarde. De qualquer jeito ao anoitecer darei um pulo no bar dos argentinos, soube que teve batida policial ontem por lá, o clima vai estar tenso, quero saber dos acontecidos. Ouvir relatos e desaforos.
O melhor jeito de se conhecer o mundo é pelo cheiro, porque não dá para escolher o que cheiramos, o cheiro é nômade e invade nosso paladar sem nossa mediação: ou cheiramos tudo do nosso lado ou morremos por falta de ar. Mas agora faz calor e não há vento nas ruas. E por isso é preciso estar lá no meio das coisas para sabê-las ver.

ao pequeno samurai




ontem senti falta do meu

pequeno samurai

as pessoas não vivem dentro

das fotografias

não riem e não dão socos no ar

mas nos ensinam a enfrentar os dias

e enrigecer os músculos

antes do tombo

terça-feira, outubro 07, 2008

fagocitose


Os dias deste lado da ilha
Tem cutra duração.
As noites crescem longas
Insolúveis
Onde me aprisiono
Numa cerca rodeada de abelhas
Bem no meio do enxame.
Esgarço o lombo
Exponho-o para ferruadas.
Nesse mundo das obrigações
Martelo dígitos e registro pontos.
Visto-me para dinamitar comandas
Abandonar consumos e excluir cervejas.
Quem dera pudesse habitar um sonho
Ser percebida e quista como flor em pétalas de perfume
Ser motivo de um desejo canibal secreto.
Sigo sem saber.
Por ora satisfeita com o cheiro
Que quando perto inspiro e fungo
Quando longe reconstruo.
É assim que o próximo pode ser fagocitado
.

sexta-feira, outubro 03, 2008

deirios tremens em dose

Não é uma questão de covardia
Certas coisas são mesmo indizíveis
Como te falaria do ciúme
Ao ouvir teu nome em outras bocas?
Secretamente torno-me dona
Da pláteia a aplaudir morenice,
Dama das tuas palmas.
Quando em ti tudo me agrada
Calo e fecho o armário.
Está fisicamente enrustido nas minhas travas
Motivando taras.
Por ora te mantenho cativeiro
Te alimento presa em devir.
Estar longe
Não faze parte dos planos.
Não explico não respondo
Qualquer dia
Te devoro
E não te aviso.

quarta-feira, outubro 01, 2008

MUNDO DE MAQUINARIA

Essa vida rente
Todo dia me afoga um tanto
E engulo vez por vez tragos gordos
De uma salmora ácida

Imagino um cotidiano mais leve
Que me espera no próximo ponto de ônibus
Encho meus bolsos de devir
Tornando-me pesada para não ser captura

Assumamos sem demasia:
Estamos numa máquina de guerra
É preciso que se saiba o lugar onde se está agora

Em confrontos não há espaço para segundistas
Não tem lugar para indecisos
Aqui, caros, estamos falando de
Vencedores ou derrotados

Não há nada de poético nesse chão
Não há saída quando se escolhe o rifle
Não há atalhos:
Precisamos ultrapassar infantarias
E de preferência
Continuarmos vivos.


Nesse mundo de quem vê
Não existem cavalos mansos
Nem sofás domesticados
Estamos sempre armados
Prontos para abriga

Daqui de onde eu falo
Não existem plantações com coelhos de pelúcia
À minha volta tudo age selvagem
Ou você come ou é comido
Basta um descuido e pronto já foi devorado.