um banho quente de tesão e ação de pensamentos absurdos

sábado, maio 31, 2008

para iara


me emociono ao saber

que minha fadinha de sampa

está assim

bagunçando os festivais de literatura

e fazendo poesia,

de todos ela é única com

direitos autorais

para o caos no mundo alheio

ou para imaginar

guarda-roupas de bonecas

sexta-feira, maio 30, 2008

banquete


para teu almoço

descasco-me do casco

operante em dias de batalha.

enfeito a mesa com as pétalas

plastificadas de petróleo

unto bacias amarelas

rego-me de sangue e suor

arrumo os guardanapos

e espero tua garfada


sexta-feira, maio 23, 2008

ser e estar

queria existir agora de verdade
sentir que as coisas
estão além da minha percepção
que posso abraçar bonecas
torna-las filhas sem
lhes ser a mãe
apalpar mortos sem que isso
fosse necrofilia
amar vivos sem que isso
fosse impossível.

RECANTO

A única companhia
são os pensamentos.

O resto são homens
a exibir masculinidades ou
indicar algum homossexualismo.

Observo o bar
repleto de solidões conjuntas
a diagramar contínuos perecíveis.

Às vezes, e na maioria delas,
tenho a síndrome do tiozão:
sentada ao lado dos outros
ouvindo conversas íntimas,
discussões políticas e
retrucando com o pensamento.

O trabalho noturno
estimula a volúpia de ser estimulante
imaginante,
mais retórica do que empírica.

Preocupo-me ao gostar
de estar só com a minha cerveja;
isso não deveria ser
algo contemplável a uma garota de
vinte e poucos.

Mas devo ter nascido aos quarenta,
ouvinte e intransigente.
Pedra ilapidável no garimpo.

quinta-feira, maio 22, 2008

Autopredação

Na horizontal dos feixes de ralações
No leito da rede de pesca
Lançada sobre meu repouso
Torno-me isca e pesca
Presa e caçador
Alimento e dente
Sem revisor conjugal
Promovo pequenos festins diabólicos
Em que sou o prato e o degustador
Nesse emaranhado de sensações e predações
Atuo sem pláteia
Num âmago de sensações
E sabores.
CATIVA-ME
Desejo agora
Ser surpreendida
Pelo saci do disco-voador
Ser roubada apreendida
Tomada de rama por outro jardim
Regada de sentidos
Virar assim
Um algo que se morde que se aperta
Que grita silenciosa pelos ares
Estrondosa pelas paredes
Que dispensa lapidações
Por preferir o estado bruto.

sábado, maio 17, 2008

humor fágico

certos dias como estes
faço senhora de mim
e caminho sobre as cabeças
a esmigalhar grânios

quinta-feira, maio 15, 2008

nego logo afirmo

Amanheço
Com a possibilidade
Do cainho ausente.

Anoiteço
Com a certeza de um corpo
Em não ateridade

Eu sei ser amada
Não sei ser sujeito
De amores

Talvez por isso
Reafirme tanto
A ausência
Daquilo que não está à minha volta.

domingo, maio 04, 2008

anti-rapel aos vinte e uns

perdi os traços
que pontuavam
o limite da solidão
e agora é tudo
o que habita
meu solo
canibal dos sentidos

farta de reprovações
invento um outro retrato
e nem por isso
me satisfaço

o balcão tem estado amplo
bebo a intensidade de se estar só
em plena alteridade

o materialismo nunca me convenceu
e a ausência é
o único topo dessas profundezas

aquelas pernas de paus
não me servem mais
desço dos degraus
sem me resignar dos equívocos
porque são
tudo o que eu tenho.