um banho quente de tesão e ação de pensamentos absurdos

quinta-feira, julho 31, 2008

mini sessão de auto-análise

Prefácio biográfico
Alguma maioria das coisas na minha vida
Não mereceriam um verso sequer
Mas todos esses presságios líricos do descontentamento
Chamam para si a minha literatura
E parece que esse é o preço a ser pago.

Fresta soturna na janela da Alexandrina

Na ante sala fico a habitar um imóvel mudo
Em frente da gaiola tem um poste plantado
Ele acende e apaga a cada dez minutos.
A última cerveja não deve ser compartilhada
Quando se está em crise solitária.
Pudera agora concretizar os desejos do corpo.
Tem um galo uníssono cantando agora
E revela-me um segredo
Que finjo ignorar.
As pessoas têm outras coisas para se preocuparem.
Eu não. Quero satisfação total e agora.
Almejo lapidar meus textos
Mas certas coisas como eu mesma
São ilapidáveis por excelência.
Permaneço com os versos toscos
E sigo pensando que aconteço.
Não encontro ouvinte para meus gritos.
Fumo e bebo como deveras sente.
Resta-me o último corpo
Antes da solidão do sono.
Não sou senhora de mim
E preciso de certos cuidados
Quando o poste se apaga.

quinta-feira, julho 10, 2008

inspiração de piaf

na maioria das vezes
quando penso muito em alguma coisa
ela acontece
mas hoje não foi assim
acabo em frente a tela tremente do pc
retirando os adornos da noite
mal vivida
ouvindo piaf
e pensando que a vida
poderia ser bem melhor
ou bem pior do que essa que me venderam

quarta-feira, julho 09, 2008

resumo semestral dessa ópera são carlense

Tenho chorado
quase todos os dias
mas isso não me comove mais,
passou o tempo de comoção ou redenção.
Sinto falta dos meus.
Mudo de cidade
carregando mortos na bagagem
e saudades de alguns ainda vivos.
Meu melhor herói está longe
e ainda não posso ir vê-lo
trabalho diariamente num bar.
Longe do meu parcerinho de lutas,
todas as guerras de tolhas perdem o sentido.
Passaram-se seis meses
e quase nada me apaixona
pouco me emociono.
Algumas vezes
divirto-me com alguns importantes amigos de bar
salvadores da depressão diária.
Penso muito em sexo
mas o fato é que pratico pouco.

ao dono da casa de madeira

Faço graça
para que me devore ao me olhar
com seus dentes de perfurar crânios
Me desenho para que me pinte
me enquadre,
para que venha mais vezes
morder minha cabeça
Gosto de estar no céu
dessa boca de leão
Queria ser sua presa mais vezes
raptada por esse veículo anos 80
Ontem promovi um desfile
despi-me das poucas peças
desse meu arsenal de vestuário
e fui habitar sua ilha
com minha nudez
úmida e safada

sexta-feira, julho 04, 2008

josé o pai

É sobre você que falo
Quando penso em super-heróis
De todas as coisas
Sinto falta da tua dicção
Dos pensamentos em maré
Daquele barco a velejar no mesmo porto de sempre
Você em sua própria Dublin
Consegue mover estátuas sem alterar as paisagens
Foste, e será sempre, o meu maior medo
A minha maior importância
No fundo o que quero
É ser como você
Do meu jeito
Acho que no final você sempre
Acaba ganhando a razão
Isso me injuria às vezes
Aquilo que sinto
Vai além de um amor de pai e filha
Supera qualquer grau de parentesco porque
Sempre terei esse amor cúmplice a te oferecer
Eu sei
Não é fácil ser meu pai
Nem ser sua filha
Sofro com a ausência
Do nosso convívio
E sempre penso em você durante noites com pesadelos
Obrigada pela bicicleta
Por acreditar que posso pedalá-la
Pela chave do disco voador
Pela falta de espaço nos estacionamentos
Pela âncora solta no mar
A única coisa que temos
Somos nós mesmos
Gostando ou não
Te amo pai
E essa é a tua melhor cena
Ser pai de uma gente
Que só desenha orgulho
Com os lápis nas calçadas.

quinta-feira, julho 03, 2008

troca de desejos dádivas

Explico: as duas postagens anteriores são os e-mails de pai-jose para mim.
Essa insistência de retorno ao mesmo tempo que me comove, me enlouquece.
Porque, por aqui nada está fácil...E tenho mesmo me questionado sobre a validade cósmica de tanto soco na parede.
Que a vida não seria fácil para minha vivência biográfica eu já tinha sacado aos dezesseis; mas aos vinte e seis estou esmorecendo.
Estar num mestrado e trampar num bar, nunca ter grana para nada, não poder viajar nem nada. Tá tudo muito austero e não tenho com quem partilhar tanta austeridade.
Talvez ele, o pai-jose, tenha razão: esse ciclo intelectual de auto-masturbação não faz a digestão de minha pessoa, sou ácida demais para ser tragada pelo estômago da Academia.
Mas sinto que não é hora de jogar a toalha, alguma coisa de boa tem que acontecer afinal. Além de colecionar livros na cabeça preciso mais da vida, meu conhecimento precisa do empírico mesmo, do toque e do cheiro das coisas, quero morder sentimentos e sorrir garagalhadas de boca cheia.
Queria mesmo que meu pai guru, pudesse de fato com seu imperativo de desejos gritar para eu fosse feliz e eu plim ficasse sendo feliz. Mas ele não pode, apesar de sua autoria em muito do que seja eu.
De todas as marcas impressas, espero que apenas as mais belas permaneçam nesse corpo-memória.

insistência de pai josé

Você não respondeu minha última carta!
A missiva enfatizava o argumento de seu retorno imediato ao ninho.
A grande maioria dos bichos (peixes, mamíferos aquáticos, mamíferos) retornmam ao berço de suas natividades.
Argumentava eu a imperiosa necessidade de seu retorno ao lar para a realização de seus objetivos: a criação literária de seus pontos-de-vista.
A argumentação é vera e absoluta.
É tempo de voltar para casa porque é tempo de atingir o mundo com suas idéias.
"Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo propósito debaixo do céu:
há tempo de nascer e tempo de morrer; tempo de plantar de tempo de arrancar o que se plantou; tempo de matar e tempo de curar; tempo de derribar e tempo de edificar; tempo de chorar e tempo de rir; tempo de prantear e tempo de saltar de alegria;
tempo de espalhar pedras e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar e tempo de afastar-se de abraçar; tempo de buscar e tempo de perder; tempo de guardar e tempo de deitar fora; tempo de rasgar e tempo de coser; tempo de estar calado e tempo de falar; tempo de amar e tempo de aborrecer; tempo de guerras e tempo de paz"
"Geração vai e geração vem; mas a terra permanece para sempre. Levanta-se o sol, e põe-se o sol, e volta ao seu lugar, onde nasce de novo.. (...) Toas as coisas são canseiras tais, que ninguém as pode exprimir: ... O que foi é o que há de ser; e o que se fez, isso se tornará a fazer; nada há, pois, novo debaixo do sol (...) Sim, tudo é vaidade e correr atrás do vento".
Amo você.
Venha tornar-se universal sendo aldeão.
Amo você.